josé e os Alçapões de Davi
Alçapão da Rua Bariri, Olaria. Palco arcaico de batalhas futebolísticas infindáveis. Ali, os Deuses do futebol se lambuzaram de assistir as mais diversas encenações do enredo clássico das quatro linhas cariocas: o enfrentamento de Golias e Davis.
O drama de ir jogar num anfiteatro onde as arquibancadas estão a poucos metros de campo parece uma idéia assustadora para alguns, porém é essa energia e pressão que torna o jogo ainda mais real, mais humano a todos os presentes.
A gota de suor, a respiração e até mesmo o lindo som que o peito da chuteira faz quando encosta-se à bola pode ser ouvida em sua plenitude, formando uma sinfonia para os ouvidos daquele ‘’josé’’ colado ao alambrado, à beira do gramado. Assim, o espetáculo fica completo em todos os sentidos: pelo drama e pela música protagonizada pelos guerreiros da bola.
Não obstante as quatro linhas, nas arquibancadas, o ‘’josé’’ não é um mero espectador, é um coadjuvante de luxo! Em meio àquele espírito familiar e caseiro que faz parte dos jogos em estádios de pequeno porte, o fiel dá suas ‘’dicas’’ e profere suas ‘‘reclamações’’ bem juntinhas ao técnico ou ao ilustre bandeirinha, que de vez em quando acaba seguindo seus conselhos, marcado um pênalti que faz os rádios adversários serem atirados para o alto na sua direção.
Pois bem, entre uma mordida e outra naquele cachorro-quente com bastante maionese, o ‘’josé’’ vibra com seu time de coração, em plena rua Bariri, sua casa, seu lar, doce, lar. Lar de Davi.
As casas de Davi tornavam Bangus, Olarias ou Madureiras verdadeiras pedras no sapato para os ditos grandes. O campo minúsculo favorecia ao anfitrião saber as armadilhas necessárias para derrubar até mesmo o melhor escrete da época. Um alçapão!
Pois bem, meus caros, o Carioca desse ano sente grande falta de seus alçapões, de seus cachorros-quente caseiros, do humanismo futebolístico e de josé, aquele fiel geraldino de Olaria, que não possui os quarenta ‘réis’ para assistir seu esquadrão nos fins de semana, ou melhor, numa quarta-feira, às dez horas da noite.
Mas ‘’josé’’ é persistente, e apesar de tentarem derrubá-lo ele é mais forte. Com a flâmula hasteada no bambu, este dá seu jeitinho de acompanhar sua paixão. Junta um dinheiro daqui e dali e vai torcer aos domingos por mais um gol de Beltrano e Fulano, seus ídolos de hoje que ainda jogam nos gramados canarinhos.
(Texto escrito em virtude do abusivo preço dos ingressos, da falta de oportunidade dos tricolores de outros municípios poderem acompanhar o Fluminense e da falta de sal do Estadual, que tornou-se municipal. Desculpem-me por fugir um pouco do assunto Fluzão, mas achei que o texto seria conveniente. Quarta tem Libertad e domingo clássico. josé vai! Saudações Tricolores)
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